sábado, 2 de janeiro de 2010

o tempo

Toda vez que se inaugura um novo ano, penso sobre o tempo... Sobre ele, tenho algumas certezas - as mesmas que pregam os ditados que dizem tudo ter seu tempo e tempo como capaz de curar tudo. Sinceramente, por mais piegas e empíricos que eles sejam, há somente sabedoria neles. A vida já me deu provas de que, de fato, é assim. E claro que não é exatamente o tempo... Mas é no curso dele que as coisas mudam e se ajustam.

Não sei realmente porque, mas tenho uma fascinação especial pelo tempo, desde a palavra que soa bem, enquanto significante, até seu significado... É quase uma entidade! Sinto uma imensidão nele - e, de fato, há.

Aproveito para postar um fragmento do romance "Lavoura Arcaica" (1975), de Raduan Nassar:

"O tempo é o maior tesouro de que o homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento; sem medida que o conheça, o tempo é, contudo, nosso bem de maior grandeza: não tem começo, não tem fim; é um ponto exótico que não pode ser repartido, podendo, entretanto, prover igualmente a todo mundo; onipresente, o tempo está em tudo; existe tempo, por exemplo, nesta mesa [...] Rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira; o equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou da espera, que se deve por nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é..."

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

o espaço

Numa manhã dessas, peguei o ônibus e escolhi um lugar à janela. Pedi licença ao senhor que sentava na cadeira ao lado.
Ele, prontamente, tratou de dar passagem.
Já sentado, disse:
- Desculpa, viu? É que eu tava distraído.

Achei tão bonita a postura do senhor... E, ao mesmo tempo, estranha, porque até agora não vejo o porquê dele ter pedido desculpa.
Pensando sobre, digo que acho digno quem ainda conserva noções de espaço, sabe até onde vão seus limites e domínios num espaço público; e, assim, enxerga o outro.

O dia-a-dia mostra que há mais gente "atropelando" a outra...
Lembra de quantas vezes você teve seu espaço público invadido pelo escancaramento da privacidade dos outros?
Há quem saia por aí - e chega a lhe atrapalhar - falando alto de assuntos da família, das relações amorosas ou das aventuras da vida.
Mais parece um ser-crise ambulante, disparando jatos de si mesmos em quem nunca viu!

a sobrevivência

Sabe a música: "Vivendo e aprendendo a jogar, vivendo e aprendendo a jogar..."?

(a jogar, não a viver exatamente... Entende?)

domingo, 26 de julho de 2009

a incoerência

Estava eu, ao calor das 13h, no “Córrego da Areia” – um dos ônibus que costumava pegar para ir de um estágio para outro, nos tempos de dois estágios.
Na parada seguinte à minha e numa cadeira à frente, sentou-se uma mulher de boa aparência.
Mais adiante, a mulher joga a embalagem de alguma coisa pela janela do ônibus. Para isso, teve que estender o braço até a janela de trás, bem à minha cara.
Que mal... O ato de jogar lixo na rua é extremamente grosso.
Passei a achar a mulher indigna.

Sempre achei incoerente alguém ter boa aparência mas ser mal educada.
Encontrei um monte, por aí, nessa minha vida de vinte e poucos anos.
Acho que devia haver uma ordem natural, na vida, onde as pessoas, primeiro, passariam por um processo de formação para a boa educação; se aprovadas, partiriam para outro processo - o estético.
Só a combinação (ou completude) de “bom corpo” com “cabeça boa” pode vingar um modelo de gente interessante, do tipo que a gente tem vontade de se envolver.

Lembrei de um antigo colega do 3º ano... Músculos bem definidos, cérebro atrofiado. Aposto que você também tem um exemplo.

sábado, 25 de julho de 2009

a bebida

Preferia escrever qualquer coisa sobre água, mas a coca-cola chama mais atenção.

Como falar dela é desafiante, pelo não-sei-o-quê que há por trás de seu consumo, relato uma situação recente que presenciei:

Segunda-feira, 7h40 da manhã, na parada de ônibus, um garoto tomava coca-cola.

Com um gole, disse:
- Bom dia, estômago!

- Cínico! - retrucou o órgão.